FERNANDO CABRITA
( Portugal )
Fernando Cabrita (Olhão, Portugal, 1954).
Advogado e poeta português com mais de 40 títulos publicados entre poesia, crítica literária e ensaio.
A sua obra recolheu já oito Prémios Literários entre 1980 e 2021, e foi traduzida para uma dezena de idiomas. Está publicada em Portugal, França, Espanha, Polónia, Turquia, Bélgica, Porto Rico, Marrocos e Rússia; e vem antologiada, referida e comentada em blogs, jornais e revistas literárias não só desses países, mas ainda da Colômbia, México, Itália, Moçambique e outros.
Poemas seus estão musicados pela cantautora Viviane, e pelo Projecto Camaleão Azul.
Desde 2015 organiza e dirige na sua cidade o Festival Internacional Literário Poesia a Sul, encontro de poetas de todo o mundo.
Biografia em: https://www.wook.pt/autor/fernando-cabrita/2084874
SULSCRITO 3 junho 2010. SULSCRITO antologia da indiferença [Tavira, Portugal: 4águas editora] 87 p.
ISSN 1646-7744 . Ex. bibl. Antonio Miranda
VIAS ÍTACA NA DISTÂNCIA?
Quando buscavas o sul, Ulisses jovem,
marinheiro ainda das viagens por fazer;
tu que eras barco e chuva nos bancos litorais,
vias acaso Ítaca na distância?
Via-la, deitada sobre o horizonte antigo?
Via-la, em cada paisagem e a cada movimento de onda?
Ou era apenas uma centelha de luz
o que afogueava o mar, uma só,
breve e luminosa sensação de encontro e perda,
breve sensação de encontro que a mesma luz logo
estremecidamente desvanece?
Ítaca, doce ilusão e arco aceso!
Ítaca, flecha retesada com um diamante célere!
Ítaca, mãe de destinos e de ausências!
Vias, entre as ilhas brancas, essa centelha
da memória a toda a brida?
Chovia desabaladamente no convés.
Vias acaso Argos demorando o horizonte?
ERAM DEZ MIL OS IMORTAIS
Eram Dez Mil os Imortais
— e já morreram.
O tempo passa
e sobre nós jamais detém o voo largo.
Eram quais deuses, aos deuses quase iguais
— e pereceram.
Nada os resgatará desse destino amargo.
Césares, loiros imperadores, augustos anjos,
imorredoiras figuras, vidas imorredoiras
— e todos houve um dia que morreram.
São já só fumo, já só pó, já só passado vago.
Eram par Mil Anos esses Impérios
que deram voz ao mundo
— e todos ruíram.
A memória das cidades de oiro afundou-se num
profundo lago.
Eram para sempre os deuses revelados
— e desabaram.
Irreconhecíveis jazem sob os templos derrubados.
Cada santo prometeu-nos a eternidade e vastos fados
— mas já cessaram
as suas profecias de homens predestinados.
Eram por séculos dos séculos, até ao final dos dias
— mas são já nem memórias do que foram.
Sobre elas vogam as asas da morte, indiferentes e vazias.
Eram filhos dilectos dos deuses, ungidos
— e desapareceram.
As lágrimas que caíram na terra secou-as o estio e os dias idos.
Eram Dez Mil os Imortais
— e já morreram.
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Página publicada em abril de 2023
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